Para compartilhar idéias!







quarta-feira, 5 de março de 2025

Entre flores a desafios: 50 anos do Dia Internacional da Mulher

A despeito das controvérsias a respeito da data e dos motivos para sua criação, tanto na Europa como nos EUA, surgiu no final do século XIX e começo do século XX, a proposição de um dia das mulheres, em meio à lutas pelo voto feminino e melhores condições de trabalho. Historiadoras apontam que a ideia de uma comemoração anual surgiu depois que o Partido Socialista da América organizou o Dia das Mulheres, em 20 de fevereiro de 1909, em Nova York — uma jornada de manifestação pela igualdade, direitos civis e pelo voto feminino. Outros afirmam que a data tem a ver com a morte de centenas de trabalhadoras numa fábrica têxtil em NovaYork, quando lutavam por direitos trabalhistas.

Ao mesmo tempo, durante as conferências de mulheres da Internacional Socialista em Copenhague, 1910, foi sugerido, por Clara Zetkin, que o Dia das Mulheres passasse a ser celebrado todos os anos. Em 8 de março de 1917, “ainda na Rússia Imperial, organizou-se uma grande passeata de mulheres, em protesto contra a carestia, o desemprego e a deterioração geral das condições de vida no país”, o que marcou a data.

Em 1975, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o Ano da Mulher e o dia 08 de março como o Dia Internacional da Mulher com o objetivo de “lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, independente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, culturais, econômicas ou políticas”.

Assim, chega-se a 2025, celebrando os 50 anos da criação do Dia Internacional da Mulher. Ao analisar os fatos ocorridos neste período encontram-se as conquistas em vários campos, no entanto, as mulheres ainda estão muito aquém da sua representatividade nos espaços de tomada de decisão tanto na política como no mundo privado.  A despeito das leis, da maior qualificação em anos de estudo e da participação em todos os setores da sociedade, as mulheres padecem de discriminação e violência.

Também há uma disparidade na igualdade de gênero entre os vários países, pois enquanto algumas mulheres são eleitas presidente da república, outras sequer tem o direito de ir e vir, de estudar e escolher uma profissão e sofrem violência doméstica e pública.

Não se pode esquecer das guerras, que penalizam as mulheres, as quais além de perder suas casas, suas famílias e sofrerem violências de toda ordem, são estupradas e usadas como moeda de troca.  

E nesses novos tempos, há uma disputa de versão no dia da mulher: entre flores e desafios. Muitas organizações entregam flores, brindes e outras ações para a beleza da mulher, o que faz esquecer o verdadeiro motivo do Dia da Mulher.

Por outro lado, movimentos feministas, como a Marcha Mundial das Mulheres, que congrega mulheres do mundo todo como o próprio nome diz, traz à tona a discussão por igualdade de direitos entre mulheres e homens, direitos reprodutivos, pelo fim da violência contra as mulheres, pelo basta de feminicídio, na defesa do meio ambiente, a permanência em seus territórios com vida digna e direitos trabalhistas.

Não tem problema dar ou receber flores no dia da mulher, o que não se pode é esquecer o seu significado para que haja o alcance verdadeiro da igualdade e a valorização das lutas das mulheres para que pudéssemos ter o direito de escolha, seja no voto na política, seja na vida de cada uma.


 

 

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Ocupação Dom Hélder Câmara: a dignidade na moradia


No dia 02 de fevereiro ocorreu evento para celebrar dois anos da ocupação de um conjunto de prédios abandonados na cidade de  Paiçandu (PR). Batizada como “Ocupação Dom Hélder Câmara”, o local reúne moradores e entidades da sociedade civil de apoio para sua manutenção e organização. A festa, pelos dois anos, foi brindada com atividades culturais e esportivas, tendo apresentações de danças e música e jogos de futebol.

A construção dos prédios foi interrompida pela construtora responsável em 2014, quando as obras pararam. De lá pra cá, muitas ações na justiça e muitas reuniões ocorreram, até que em janeiro de 2023, um grupo de pessoas decidiu ocupar o local que estava vazio e abandonado.

Com a ocupação, a coordenação organizou o local e as famílias alojadas. Hoje,  a Ocupação Dom Hélder Câmara conta com 1.600 pessoas, sendo 250 famílias e 570 menores de idade.  Os moradores tiveram colaboração, desde o início, de entidades da sociedade civil e da UEM (Universidade Estadual de Maringá). Um dos coordenadores conta que na primeira fase, na qual as pessoas não tinham comida, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) as socorreu com fornecimento gratuito de alimentos. Atualmente, os moradores e moradoras trabalham nas cidades de Paiçandu, Maringá e Sarandi.

Ao observar o local, depara-se com uma sala de livros, uma sala de convivência, um campo de futebol e um pátio com palco para apresentações. Chama a atenção, também, os nomes dados para cada torre de apartamentos que compõem o condomínio: Dom Jaime, Betinho, Dom Oscar Romeiro, Doutora Zilda Arns, Maria Glória (Magó) e Marielle Franco. São pessoas importantes na história nacional e local que fizeram a diferença para o mundo no tempo em que viveram e compartilharam suas ideias e ações, impactando as pessoas. Observa-se, também, uma efervescência de crianças e adolescentes participando ativamente das atividades culturais e esportivas.

Claro que nem tudo é paraíso, muitos problemas ocorreram na ocupação, desde a necessidade de murar o local até a conscientização das pessoas para o trabalho coletivo e a segurança das famílias. Muitos esforços foram realizados para a instalação de portas e janelas, bem como água e energia elétrica.

Com o tempo e a persistência, parcerias foram surgindo para a melhoria das atividades e da vida dos habitantes da ocupação.

Uma parceria importante é realizada com a UEM e algumas entidades, com vários projetos realizados, dentre eles:

·         Reforço escolar;

·         Unitrabalho;

·         Coral Infantil

·         Espaço de Vivência Infantil Leonel Brizola

·         Clube de leitura para adolescentes

·         Amicus Curi (Amigos e amigas do processo), colaboradores

Para o futuro, estão sendo organizadas: escola de dança e oficina de música.

Entretanto, a situação da ocupação depende da regularização por parte da justiça, cujas ações envolvem o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Construtora Cantareira, a Associação dos Mutuários e a  UEM. Há, sempre o medo, por parte dos moradores, de uma possível reintegração de posse determinada pela justiça com uso de força policial.

A primeira necessidade é a desapropriação do terreno, depois a legalização das moradias cujos moradores desejam pagar por elas para que realmente tenha uma vida digna.

Por enquanto, mulheres, homens e crianças que vivem na Ocupação Dom Hélder Câmara estão melhorando o local e criando espírito de fraternidade como se fosse uma daquelas antigas pequenas cidades de interior, na qual as pessoas se ajudavam e cuidavam uma das outras.

Um dos coordenadores do local, o professor Pedro Jorge (UEM), extremamente preocupado e ciente da necessidade de desapropriação e futura regularização, considera que: “a nossa ocupação é muito mais do que um teto”.

Essa frase reflete o espírito de união que foi se solidificando ao longo desses dois anos e que merecem ser celebrados.

Que a justiça seja feita e que aquele local, outrora abandonado, agora devidamente ocupado, seja o lar efetivo de pessoas que, realmente, valorizam suas moradas.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

A Porta da Humildade

Recentemente estivemos no Santuário do Frei Galvão em Guaratinguetá. Trata-se de um local de referência dos franciscanos para o primeiro santo brasileiro, Frei Antonio de Santana Galvão. É um local simples com uma pequena igreja com relíquias e imagens que narram a vida do Freio Galvão, como é conhecido. No local são entregues também as chamadas "Pílulas de Frei Galvão" para os fiéis realizarem uma novena de atendimento de pedidos.

Ao lado do altar da igreja, tem uma pequena capela com duas portas.  A porta da entrada pela igreja e uma outra porta que sai para o pátio. Essa porta, na qual está escrito Porta da Humildade tem 1m20 de altura. A Porta da Humildade não é novidade para os cristãos pois remonta aos ensinamentos de Cristo com relação a ser humilde e  servir as pessoas. Ela existe em outros locais e foi trazida para o Santuário como símbolo para que as pessoas reflitam sobre suas ações.  

A simbologia de uma porta desse pequeno tamanho é para que as pessoas precisem se abaixar para passar por ela, numa reflexão do significado da humildade.  A humildade vista por algumas pessoas, na atualidade, como um defeito ou uma fraqueza, nos ensina  a bondade e amabilidade, mostrando força, serenidade, amor próprio e autocontrole, como tratado nos escritos religiosos.  Significa, de modo simplista, conhecer nossos erros e nossas limitações e compreender as pessoas.  

Ao passar pela porta, nos abaixando, leva a pensar tanto nas pessoas que são humildes como nas pessoas soberbas que se consideram melhor que as demais. Ali, precisando se abaixar para passar pela porta, todas as pessoas, naquele momento, se tornam iguais, independente de seu tamanho físico, de sua posição social, gênero, raça, etnia ou qualquer outra forma de diferenciação criada em nosso mundo.

Nem todas as pessoas que vão no santuário, passam pela porta. Algumas dão a volta e não compreendem a mensagem de amor ao próximo que desencadeia uma porta da humildade.

Na foto, Luis Antônio, meu marido, que mede 1m80, precisando abaixar para passar pela porta de 1m20. Coloquei a foto do Luis Antônio atravessando a Porta da Humildade, de propósito, pois o considero uma das pessoas mais humildes que conheço, depois do meu pai.

 Porta da Humildade, Santuário Frei Galvão, 03/01/2024. Fonte: Acervo da autora.

 

 

domingo, 22 de dezembro de 2024

Faz o L!

Faz o L se tornou uma disputa por dois lados: aqueles(as) que realmente votaram em Lula nas eleições 2022 e aqueles (as) que continuam defendendo o ex-presidente inelegível.  Nessa disputa, quem não fez o L criou uma espécie de "eu falei", não importando se o governo faz bem ou não, o negócio dessa turma é ser do contra e trabalhar pela volta do ex-presidente.


Parece bobagem, mas não é. Como a disputa de versões faz parte da batalha nas redes digitais, quem criar e usar slogans ou memes de forma que grude, se sairá melhor na conquista do público para sua versão, a qual pode não ser verdadeira, mas pode impactar sobremaneira.  

De toda forma, o "Faz o L" colou tanto para um lado como para o outro.  Os eleitores do presidente Lula se orgulham do L e de forma explícita usam o L em postagens e fotos. Entretanto, é sabido que nem todos que fizeram o L queriam fazer, mas o fizeram para tirar do poder o "B" que estava minando o Brasil e corroendo com disseminação de ódio, armamento e fakenews. 

Assim, o "Faz o L" mais do que tudo é a defesa da democracia, da colocação respeitada do Brasil no cenário internacional e a volta do respeito às diferenças.

 Claro que "Fiz o L" e farei quantas vezes forem necessárias para que o povo brasileiro não precise passar pela onda de ódio exalada por palavras e ações em governos autoritários.


 

domingo, 15 de dezembro de 2024

Desafiada sobre o que me motiva

Fui desafiada a dizer o que me motiva. Penso que a motivação vem de um conjunto, a partir da minha história. Tive poliomielite (paralisia infantil) com 1 aninho. Fui atendida rapidamente pois meu priminho irmão Waltinho falecera um mês antes de meningite ou erro médico e meus pais pensaram que poderia ser meningite por causa da febre. Minha mãe conta que o médico fazia testes nas minhas perninhas e eu só mexia a perna esquerda. Voltei a andar, usei botas ortopédicas até os 10 anos de idade. Usava calças compridas pois sentia friagem nas pernas. Imagina ter paralisia numa cidade com 14 anos como era Maringá. Tive sorte e muitos cuidados. Minha mãe fazia massagem e exercícios nas minhas pernas. Meus pais sofriam quando eu caia. Ganhei bicicleta da minha madrinha, tia Cida, ainda criança. Comecei a nadar aos 12 anos num projeto do Clube Olímpico. Fiz Ginástica Rítmica dos 15 aos 17 anos. Sempre fiz e faço alguma atividade física. Uso óculos desde os 5 aninhos, era muito estrabica e hipermetrope (sou, agora uso óculos multifocal). Enfim, fui uma criança e adolescente diferente das demais, mas me diverti como todas. Sou de família grande e amorosa. Curti muito meus avós, tios e tias. Passeei e brinquei com primas e primos, irmã e irmão. Pela época e pela doença que tive, poderia ter morrido ou ficado de cadeira de rodas ou com dificuldades para andar. Não fiquei. Só por isso tudo, sou sempre muito grata e aprendi a compreender as dificuldades e limitaçoes das pessoas. Talvez, boa parte do meu trabalho voluntário venha da gratidão e a outra parte venha da participação na Pastoral Universitária quando aprendemos que a fé sem obras é morta. No final das contas, nem o uso dos óculos nem o 1,6 cm a menos na perna direita foram impedimentos. Inclusive, sempre fui dona de um belo par de pernas grossas e lindos olhos cor de mel..rsrs
@marevivacomunica

sábado, 2 de novembro de 2024

Conheci o senhor Jorge no Capitólio

Vale dizer que a região do Capitólio é belíssima, com cachoeiras, cânions, uma fauna

 e flora diversas. 

Estive por lá dias desses, por dois períodos intensos de muitos passeios e comida boa. 

Na manhã do primeiro dia, conversamos amenidades no grupo que continha muitas professoras, 

ex-funcionários da prefeitura e muitas pessoas aposentadas. Numas dessas conversas, um senhor 

trocando ideias a respeito da cidade de  Passos, comentou que trabalhou na prefeitura e conversa 

vai conversa vem comigo e com minha prima Rose,  chegamos no meu tio Sid (pai dela) que ele 

conheceu. O tio Sid (Ancelmo Sidnei Tait) trabalhou na  prefeitura de Maringá por quase 40 anos. 

Depois, embarcamos para mais um passeio e não conversamos mais. 

Na tarde de domingo, no último passeio, eu não me senti à vontade pra ir na última cachoeira pois

 a  rinite estava me atacando. Aí vi um banquinho debaixo de uma árvore e ali resolvi aguardar

 o pessoal voltar.

 Logo se aproximaram um casal e uma senhora. As duas resolveram descer um pouco e o senhor

 e eu ficamos sentados ali no banquinho. Era o mesmo senhor que conversamos pela manhã. 

Com óculos de sol e chapéu nós não havíamos nos reconhecido. 

E de novo conversa vai conversa vem, ele gosta de uma prosa e eu também, ele contou que 

trabalhou  na prefeitura e se aposentou.  Eu disse que também trabalhei, na época do José Cláudio. 

Ele então contou histórias sobre o Zé, que foi pedir emprego pra ele enquanto aguardava a chamada

 do concurso que passara e o Zé respondeu secamente. Segundo o seu Jorge, o prefeito estava

 certo na resposta. O Zé conhecia o pai do seu Jorge de Floriano e disse a ele que voltaria para 

visitá-lo no sítio como prefeito. E assim, o fez. Depois de eleito, José Cláudio visitou o pai dele. 

Eu, por minha vez, contei a ele que ao pedir voto pro meu pai para o Zé Claudio, meu pai retrucou 

“ele não me pediu voto”.  Rapidamente, liguei para o Zé e coloquei ele pra falar com meu pai. 

Meu pai falava: - essa minha filha é fogo, está aqui pedindo pra votar no senhor. 

O que o Zé disse, eu não sei e nem saberei, mas meu pai ao desligar o telefone me disse: 

“É um bom homem, vou votar nele”.

Assim, seu Jorge e eu ficamos conversando a respeito do Zé Claudio, de sua força, simplicidade

 e que tinha um grande futuro na política. De repente, seu Jorge falou que eu era familiar. 

Ri e falei que fora  Secretária de Administração na prefeitura e talvez, “chefe” dele. 

Ele riu e disse: Tania Tait, me lembro. Mais risadas e comentários sobre a vida, o tempo que passa. 

A esposa do seu Jorge e a outra senhora retornaram e  sentaram conosco. 

Não me recordo como chegamos no ponto, mas descobrimos que conheço o filho

 do seu  Jorge, que, inclusive, foi candidato a vereador nestas eleições. 

As conversas nos levaram a pontos comuns, locais que frequentamos, o apoio ao José Cláudio e 

a tristeza por sua passagem. 

Um prazer conhecer seu Jorge, trocar ideias com ele e saber de mais uma parte da história 

do Zé Claudio.  No desembarque fiquei feliz em ver o filho  buscar o pai. Claro que tiramos foto,

 seu Jorge, a esposa e eu na Trilha do Sol e enviamos pra ele, pra falar da coincidência de

nos encontrarmos ali. 

Tanto seu Jorge quanto eu compartilhamos o mesmo tempo na história de Maringá, 

sem nunca termos conversado ou nos encontrado. E foi ali, no banquinho no cruzamento 

da descida da cachoeira, debaixo  de uma árvore, nas Minas Gerais,  

que fomos conversar  e trocar ideias a respeito da cidade e do saudoso ex-prefeito José Cláudio.

 


 Foto: Canion no Capitólio, de minha autoria, 26/10/2024



quarta-feira, 9 de outubro de 2024

A influência da religião na política


Vários elementos influenciam a política, dentre eles, a religião assume um dos papéis preponderantes, desde os primórdios, em todos os povos. Nos anos da ditadura militar, em meio a guerra fria entre EUA e Rússia, os EUA dominaram a América Latina protagonizando golpes militares em todo o continente para barrar o avanço do comunismo (sistema implantado na Rússia), garantir a hegemonia estadounidense na região bem como explorar os recursos naturais dos países da América Central e da América do Sul.

Junto a isso, as religiões que tiveram papel preponderante ao inserir o medo do comunismo em seus fiéis. Relatos sobre aquele período histórico comprovam que padres e pastores ensinavam as pessoas a identificar os comunistas e informar a polícia, Muitos pastores norte-americanos, também se deslocavam para a América Latina numa cruzada contra o comunismo que entrou no imaginário popular como “os demônios” por serem pessoas que não acreditavam em Deus e, na visão deles, iriam destruir as famílias.

Um relato interessante de uma mulher sobre a ditadura militar é revelador desse fato histórico. Ela, estudante na época, relata que o pastor falava que o comunismo iria deixar as famílias pobres. Ela retrucou pra mãe: “esse comunismo vai deixar a gente mais miserável do que já somos?” Levou bronca, pois pra mãe, o pastor sabia o que dizia. (Relato em Tait, Tania F C,  As mulheres na luta política, CRV, 2020). De acordo com historiadores, essa etapa começa a fazer parte da “teoria do domínio”, na qual se coloca a figura de Deus em todas as ações para dominação pessoal, profissional e política, com uso principal do Antigo Testamento, ou seja, trata-se de um projeto de poder e não de obra do acaso ou de inspiração divina.

Passado o período do governo da ditadura militar (de 1964 a 1985) e com a abertura democrática, os partidos de esquerda voltaram a se reorganizar e criaram-se novos partidos, dentre os quais o Partido dos Trabalhadores (PT), de raízes socialistas. Assim, a partir de 1982, o PT surge, advindo de várias frentes: do movimento sindical, de setores progressistas da Igreja Católica sob a batuta da Teologia da Libertação e das CEBS (Comunidades Eclesiais de Base) e de militantes que atuaram contra a ditadura militar.

Entretanto, mesmo tendo sido eleito por 5 vezes para o cargo maior do país, a presidência, com a realização de programas sociais para melhorar a vida do povo e não ter transformado o Brasil num país comunista, o PT sofre ataques sistemáticos, tanto por adversários como por parte da imprensa, principalmente em período eleitoral. Ataques protagonizados por ativistas da extrema-direita que, com propaganda religiosa e anticomunista,  chegam às vias de fato em sua violência, com agressões físicas e assassinatos, são vistos nos últimos anos, quando o ódio aos contrários na política tomou conta do cenário nacional.

 A partir de 2018, com a ascensão da extrema-direita no poder máximo do país, surge, também, uma nova expressão no cenário nacional, como se fosse um xingamento: “seu/sua petista, seu/sua comunista”, dirigida aquelas pessoas contrárias ao ex-presidente inelegível, mesmo que essas pessoas nem sequer tenham filiação partidária.

Também, expressões como “demônio” ou “ satanás” direcionadas aos militantes de esquerda, seja de qual partido for, são recorrentes nas ruas e nas campanhas eleitorais. Essas expressões demonstram, de forma nítida, a mistura entre as pautas religiosas e políticas, principalmente em itens como diversidade racial e sexual, direitos reprodutivos, relações afetivas, dentre outras, as quais as religiões tem seus dogmas e regras.

Neste cenário, como se estivessem numa batalha épica contra o bem e o mal, muitos líderes religiosos inflamam seus fiéis na condução de ações autoritárias para com aqueles ou aquelas que não comungam da mesma religiosidade. Nessa visão, o bem é exaltado com práticas conservadoras e o mal é simplesmente o “comunismo”.  Infelizmente, isso se reflete nos pleitos eleitorais, não importando se o candidato ou candidata tem processos ou é condenado por crimes. Para esse tipo de influência religiosa, o que vale é se o/a candidato/a é anticomunista, antipetista, antifeminista...e o lado adversário seja relacionado ao “demônio”.  

A História, inclusive, a contemporânea, comprova que misturar religião com política promove o atraso no desenvolvimento cultural e social dos povos, aumenta a violência contra a mulher, negros e as minorias, em geral, segrega as pessoas e causa muito mal à humanidade.

Afinal, religião se trata da fé dos indivíduos que escolhem seguir seus dogmas enquanto que na política, as pessoas eleitas devem servir a toda população, independendo da posição ideológica, da fé ou crença ou mesmo descrença.